segunda-feira, 19 de março de 2012

Ode a minha Mãe

Desce véu sobre meu rosto
A cobrir-me da luz antes do sol
Minha alma em febril estado
Alucina em ti chegando vestida de seis horas

Quem és tu
Perola negra das maresias
Nascente da manhã mais rara
Lampejo dos carnavais

Quem és tu
Indelével estrela do oriente
A iluminar o mundo na luz crescente
Na fina brisa da alvorada

Embalaste-me em leito de cantigas
Exalando a paz pelas tuas veias
Respirando a dor difícil da vida
Do sangue vermelho e do suor

Quem és tu
Sorriso aberto banhado de céu e terra
Santidade de barro, grande mulher
Rosário dos segredos sacros

Quem és tu
Diamante vital desta casa
Asa mais larga que ganha o céu
Nítida flor dos laranjais

Quem és que me possui a sombra
Que me deste a mão e correste o destino
Compartilhei contigo o risco da vida
Transcendendo o perigo de ser feliz

Nós que nada somos
E tudo temos, efêmeros milagres da terra
A nós que possuímos o eterno
A nós que a muito fomos, hoje somos e seremos

Onde estará a pergunta
O deslize e o susto
Berlim e a revolução russa
Onde estará a arca e a aliança

A tempestade do ultimo segundo
Nas trancas do portão de cedro
Nos potes de barro e nos evangelhos
Na minha palavra de dois gumes

Teu coração correto
Quem sabe não estava escrito
Nas entrelinhas dos provérbios
Que não nos cabe o julgamento

Teu coração reto
No horizonte dos seus filhos
Na pessoa do teu pai, e do teu avô
Na oração do teu esposo

Minha alma em uma bifurcação
Onde me és consoladora
De um karma mudo e antigo
Fiz-me em magia e mistério
Na roda dos nascimentos
Fizeste-me corpo e companhia
Nas praias do meu sono
Fizeste castelos de pedra

Nas chagas dos meus pecados
Fizestes penitências e ungüentos
Quando me crucificaram
Te entregaste em meu lugar
Quando desejei a minha morte
Ofereceste-me tua vida
Escrevo-te rosas e mantras
Te ofereço o meu altar

Descobriu-me a mentira
Perdoou-me outra vez
Beijou-me a face, serena
Parecendo nem lembrar
Deitada, reza e dorme
E aperta o peito consigo
Derrama lágrimas de ouro
Em meu lugar

Te ofereço a criação do mundo
Em perfeita simetria
Te ofereço a nota perfeita
Da mais perfeita voz divina
Te darei o por do sol
Onde ele calmo se deita
De darei uma coroa
Pra então te coroar

Nos Terreiros da Bahia
No alto mar
Ou na Índia

WallMushu

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