domingo, 25 de outubro de 2015
O cruzeiro
As enormes placas honravam os heróis da guerra
A chuva estava chegando e arrasaria tudo ao nosso redor
Com algumas canções de criança acalmei o choro em volta
Olhávamos este céu de silêncio e apreensão
E com derrotada paciência aguardávamos o segundo sol
Eu estava cansado, minha pele estava marcada
Olhava os santos fazerem suas ultimas preces
Para mim elas não surtiam em nada
Eu respirava como forma de clamar
Não havia direção para sua chegada
O ar tinha parado e estava denso
Nele havia um silêncio quase imposto
Tantos e tantos livros queimados por desgosto
De tantos e tantos que tentavam avisar
Que já não adiantava nada
O dia ia findando e nossos olhos se fechavam
Astronômicos e quebrados com hidrólise
As teorias encontravam um lugar comum
E finalmente podíamos calcular e prever tudo
Mas era tarde demais
Senti um lampejo e um golpe forte
Não pude me virar ou me defender
Um segundo pode ser sentido e tocado
Era expeço e grosso como meus cabelos
Tudo tinha acabado.
Ofélia
A lua agora está em Sagitário
Os anéis de Saturno se entrelaçaram
Não houve a sombra da Terra, não houve eclípse
Não houveram mais os trópicos de câncer e capricórnio
A rosa dos ventos murchou sem sair do lugar
A morte lenta nos deu uma trégua
Temos ainda estradas cheias de estacas
Ainda temos um céu com estrelas
Existe uma vida fora deste lugar
Que logo virá me buscar
E logo terei a recordação das constelações
Existe uma vida em mim que não me pertence
Existe um lugar onde não existe tempo
Existe uma gravidade muito superior a do Sol
Existem desenhos ainda para pintar
Recobrei-me da noite anterior
Das velas e dos brindes
Das enormes mesas fartas
Das valsas e das orquestras
Deitei-me a meia noite totalmente cheio
Tomei de uma taça envenenada
Apaguei meus rascunhos e queimei meus escritos
Olhei para velha cruz de madeira centenária
E ela ainda estava lá
Despertei no outro dia iluminado
Radiante de novas margaridas
Banhei-me em um rio, com pássaros de arame
Vi os frutos voltarem a semente
Joguei no ar alguns versos frios e quentes
Toquei um pouco de violão olhando as nuvens que passavam
Fiz muitas coisas que gostava, rezei uma Ave Maria
Deite-me na grama
E acordei entre quatro paredes rústicas
Novamente controlei meu medo e andei pelo chão de fogo
Sentia-me em casa como se procurasse algo perdido
Encontrei uma pedra pequena e branca, como vinda do espaço
Passei meus olhos nela, toquei-a delicadamente
Não era perfeita, parecia gasta de sua queda
E de sua viagem longa e demorada
Avistei quantos buracos negros haviam no infinito
Quantas estrelas já haviam morrido
Olhei novamente na pedra e pude ler um nome novo
Mas este nome eu não posso falar
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Dois passos
Você comeu as minhas palavras olhando para o chão
Sorriu, com a interrogação de um asfalto
Do nosso lado as risadas abafavam os postes
E a criança que não sabia se era ou não um assalto
Eu vou pintar quadros com pequenos retalhos
Eu vou contar uma história com relatos colados
Eu vou esperar que me tragam jornais recortados
Eu vou ficar até ver os portões escancarados
Para me ver diante dos cedros albinos todos enfeitados
Vendo meu corpo e tantos outros ali deitados
Durou pouco, podia ter durado mais
Nem mesmo saiu a lua pra nos dar a luz
Aquele moço insistiu para nos demorarmos
Naquela noite como num cais
Eu vou rabiscar com meus lápis não apontados
Eu vou olhar na data os dias corridos
Os sábados e domingos sem feriados
Para sorrir nos festivais anuais
Quem sabe eu mude meu rosto de papel molhado
Pela fotografia dos outros carnavais
Foram tantas conversas que nem lembro mais
Qual foi o assunto inicial
Tentamos não falar nada de religião
Nem comemos nada antes do prato principal
Eu olhei com perspicácia os olhares trocados
E tive paciência nas conversas baixas
Tentei ser cordial com as outras mesas
Onde os ânimos estavam exaltados
Joguei algumas palavras com cortiças secas
No asfalto de óleos e bálsamos
Ventou pouco como para os vampiros
Que do alto dos postes nos espreitavam
Alardeei com a sabedoria salomônica
Meu levantar no mesmo horário
Chegamos as ruas de horário deserto
Eu compreendi os silêncios a esmo
Enquanto pagávamos o tempo de agora
Tentando nos recuperar
Terminamos a noite como juízes da alforria
Terminamos a noite livres deste lugar
Eu cheguei em casa estático
Alegre, parado, sem pensar
Apenas deixei o momento ser o que precisava
Logo irei me deitar
Cruzarei meus braços dentro do ritual
E me entregarei aos séculos passados
Através do descanso do corpo mortal
Enfim me darei por vencido
Entretanto da minha morte e do meu final
Eu surgirei renascido
Das cinzas do meu tempo de ontem
Farei meu amanhã de novo sol
Além do que foi e do que pensaram
Farei uma recriação do despertar
E novamente o ser vivido desde o início
Dará sua palavra mineral
Sorriu, com a interrogação de um asfalto
Do nosso lado as risadas abafavam os postes
E a criança que não sabia se era ou não um assalto
Eu vou pintar quadros com pequenos retalhos
Eu vou contar uma história com relatos colados
Eu vou esperar que me tragam jornais recortados
Eu vou ficar até ver os portões escancarados
Para me ver diante dos cedros albinos todos enfeitados
Vendo meu corpo e tantos outros ali deitados
Durou pouco, podia ter durado mais
Nem mesmo saiu a lua pra nos dar a luz
Aquele moço insistiu para nos demorarmos
Naquela noite como num cais
Eu vou rabiscar com meus lápis não apontados
Eu vou olhar na data os dias corridos
Os sábados e domingos sem feriados
Para sorrir nos festivais anuais
Quem sabe eu mude meu rosto de papel molhado
Pela fotografia dos outros carnavais
Foram tantas conversas que nem lembro mais
Qual foi o assunto inicial
Tentamos não falar nada de religião
Nem comemos nada antes do prato principal
Eu olhei com perspicácia os olhares trocados
E tive paciência nas conversas baixas
Tentei ser cordial com as outras mesas
Onde os ânimos estavam exaltados
Joguei algumas palavras com cortiças secas
No asfalto de óleos e bálsamos
Ventou pouco como para os vampiros
Que do alto dos postes nos espreitavam
Alardeei com a sabedoria salomônica
Meu levantar no mesmo horário
Chegamos as ruas de horário deserto
Eu compreendi os silêncios a esmo
Enquanto pagávamos o tempo de agora
Tentando nos recuperar
Terminamos a noite como juízes da alforria
Terminamos a noite livres deste lugar
Eu cheguei em casa estático
Alegre, parado, sem pensar
Apenas deixei o momento ser o que precisava
Logo irei me deitar
Cruzarei meus braços dentro do ritual
E me entregarei aos séculos passados
Através do descanso do corpo mortal
Enfim me darei por vencido
Entretanto da minha morte e do meu final
Eu surgirei renascido
Das cinzas do meu tempo de ontem
Farei meu amanhã de novo sol
Além do que foi e do que pensaram
Farei uma recriação do despertar
E novamente o ser vivido desde o início
Dará sua palavra mineral
Enfeites
As vezes eu choro de um amor repetido
Ou do que vai acontecer
Eu mandei uma imagem
E chorei
Quando você cresceu
Vivendo os anos antes de mim nascer
Eu te criei
Amor e bálsamo do meu regaço
Eu te casei
Com as flores cultivadas
Nos jardins passados
Que nesta vida eu comprei
Ainda és estrela
E sempre haverás de ser
Não tema o futuro minha querida
Eu jurei salvar tudo no ultimo minuto
Por mim e por você nesta vida
Ou do que vai acontecer
Eu mandei uma imagem
E chorei
Quando você cresceu
Vivendo os anos antes de mim nascer
Eu te criei
Amor e bálsamo do meu regaço
Eu te casei
Com as flores cultivadas
Nos jardins passados
Que nesta vida eu comprei
Ainda és estrela
E sempre haverás de ser
Não tema o futuro minha querida
Eu jurei salvar tudo no ultimo minuto
Por mim e por você nesta vida
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