quarta-feira, 28 de março de 2012

Ametista

Eu ando com o vento
Como marcha sem prévio aviso
O esqueleto inconsciente
O passo sem descrição
Me parece gente
Me parece visão


Eu ando comum como tudo
Sem pensar em ruas vazias
Sem pensar em mais ninguém
Sem pensar nos sinais verdes
Cantando comigo
Andando como os andarilhos
Minha respiração evidente


Assim como o mundo 
Eu quero cantar
As águas novas para os mudos
Todas as flores de Setembro
Todas as lembranças e histórias
Que eu puder encontrar


Como a criança eu quero viver
A eternidade de um segundo
Toda emoção da Bossa Nova
Eu quero viver
Toda delícia e magia
Dos imortais
Eu quero escrever com o lápis
O bem e o mal


Como um Buda
Eu quero saber morrer
Com uma simples renúncia
Ao mundo e tudo mais
Para mergulhar no Nirvana


WallMushú

Cumprimentos à pátria

Horas atrasadas
Bate o martelo
Modéstia temperada
Roda o peão
O trem das onze e meia
Só chega meio dia
Salário atrasado
Malha o patrão


Gente coitada
Comento o pão com suor
Gente coitada
A dor e a madrugada
Batem no ponto das sete horas
Volta a rotina
Volta o patrão
Gente que trabalha
E esmola a vida
Levando nas costas
Toda a nação


Gente pisada
Que não tem rima própria
E o medo da polícia
E o da prisão
Desce o sorveteiro
Sobe a gasolina
E tudo tem um jeito
Que é pior


Até quando será
Que vamos aceitar
Receber como prêmio
Alguns trocados
Até quando será
Que o poder ficará
Em algumas estrelas
Num céu intocável
Até quando será
Que a lei será
Tão bonita e poética
E tão pouco real


Enquanto os homens exercem 
Seus podres poderes
O mundo tem um milagre 
Que não se pode pagar
Enquanto os homens alcançam
Muito mais riquezas
Cresce mais uma doença
Que não se pode tratar


Até quando será
Que vamos dormir
Em pedaços de sonhos velhos
Que já não tem mais sentido
Como Caetano dizia
A zil anos atrás
Terá que soar
Terá que se ouvir por mais zil anos


Somos pobres e muito mais
Mas ainda somos muitos
Cumprimentos educados a pátria prometida
À um mundo de gente
Que já não tem fé em nada


WallMushú

segunda-feira, 26 de março de 2012

Paralelípsia


Um pouco mais
Do que é muito
Fora do segundo
Sempre existe um olhar a mais
No mundo

Como se faz um amor perfeito

Como se faz?
O amar livre do peito

Eu ainda desejo voar

E cair sem chegar
Eu ainda não sei nesta vida
Meu lugar

Pobres dias salgados

Uma vez que eu seja meio amargo
Um tanto adstringente
A faísca do fogo ardente

Eu ainda sou teimoso em tentar olhar

O mundo com bons olhos, apesar do mal
Este mundo não é pra mim,
Não é assim
E ponto final

WallMushú

Meu Brasil


Meu prejuízo
Meu calvário e meu arrepio
Minha sorte sem medo
Aliviada
Sem ter o respeito de mim
Cai a chuva no céu claro
De fulguras mil

Meu Brasil, brasileiro

O dia inteiro
Meu Brasil, brasileiro
Mulato, Globeleza e navio negreiro

Abre a porta

No flagra, o abuso sexual
De mulher e criança
Meu Brasil marginal

Preso na cocaína

Algemado e vendendo na esquina
Dias a fio

Meu Brasil, brasileiro

Vê se cresce não só pelo dinheiro
Meu Brasil, Brasília
Vamos ver que é o dono da matilha

Do poder

Do roubo que ninguém pode  saber
Do Brasil que morreu
E ninguém quer ver

Noite enluarada

Dinheiro no bolso é risada
No covíl

Meu Brasil


WallMushú 

Vivácido

Já não me faço de juízo
Nem rogo os anos a mais que não tenho
Nem as palavras mais sérias que digo
São as que entendo

Em vão busco o espaço
Que me negaram
Por ser poeta
Por ser sincero

Pior é o teto que me tiraram
E em vão durmo em cama quente
Sem lembrar o que seja paz
O que seja gente

Um jovem
Tacando pedras
Falando como velho
No espelho

Dos pés a nuca
Arrepia a combustão
De queimar o mundo
Com a boca


WallMushú

Juro

Juro ao amor
Não matar meu mal
Mas fazê-lo meu bem
Juro a mim
Não negar o fim
E recomeçar
Juro a todos
Ser o melhor
Que puder dar
Juro me esforçar
Para que não seja assim
Juro ser o Yang e o Yin
E equilibrar sem aceitar
O mundo como está
Juro ter mais consideração
Com aqueles que dão a mão
Pra me levantar
Juro descer
No fundo do poço
Por quem precisar
Quando precisar
Juro mais
Não ver os tais
Que se julgam os melhores
E dentro dos piores
Tem o seu lugar
Juro aprender a oração
Para salvar
A quem puder
Juro estar lado a lado
Pro que vier
Juro não ser indeciso
Juro estar na vida
E depois dela se for preciso
Juro não olhar para traz


WallMushú

Nações do céu da boca

Valores humanos
E a simplicidade de rir
Não batem seus santos

Jornal Nacional

E a mãe que paga crimes
Por um filho

Valores de aluguel

Não pagam o preço
Da vida
Que é vivida todo dia

Dinheiro não paga

As mágoas
E o céu não é mais o limite

Perdoa ou julga

Confia ou fica com pulga
Atrás do coração

Hinos errados

E a traição é a vitória
Dos inocentes
Perante a corte dos leões

Há um grito

Que passa no tempo
Incita a revolta
Mas não traz de volta
O que passamos

Perdoamos

Sempre foi assim
Pra todos nós
Que fomos à voz de uma nação
Bandida, banida, perdida... vendida!!!


WallMushú

As cruzadas


Eu quero um veneno calmo
Saltar de meus olhos num desfiladeiro
Rasgar nos meus braços
As asas brutais do anjo guerreiro
E ocultar a luz do sol
Mágoas do anjo negro
Quem dera rever o universo outra vez
E outras vezes
Eu desejo um cálice
Seja o ultimo e o primeiro
Para que eu beba o meu beber
Por inteiro

WallMushu