sábado, 2 de julho de 2016

O papel nos olhos

As vezes eu não gsto de ler, me vem uma angústia de colocar algo que eu sinto no lugar onde ele já está, ele vem de fora e estranhamente já é familiar e identico.
Eu leio tentando tomar distância, pronto para correr para o azul escuro do silêncio e do canto das baleias, não se pode escreve-los então neles eu sinto paz e naturidade.
Se tento escrever eu me confundo e perco meu endereço, se tento falar acabo gaguejando, nem mesmo em segredo consigo mandar sinais, o secreto me envolve de uma forma torturante para nunca ser revelado,  quando eu morrer, na minha morte ele estará, mas passará secreto ainda sim, camuflado no teatro de meu sono, eu estarei escondido acompanhando tudo, quase posso rir, só não o faço por respeito aos presentes.
Eu tentei em vão escrever, mas não consigo, e agora ler me transpassa, estou eu me tornando tênue e fácil de se desfazer como o ar?
Onde qualquer sopro me transporta a outro e então sou eu outro quase semelhante?
Se assim o for me negarei convictamente, quero ser um ar ainda legível, eu desperto tomando este fôlego, quero escreve-lo em todos os seus pontos.
Escrever ainda é meu respirar, tenho trazido para mim um ar artificial, sem escrita para viver.
A letra ainda corre ousada dentro de mim.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Isabela viverá 120 anos

Tentaram tirar-lhe a vida
Deus não deixou
Abriram as portas do inferno
O inferno ela abençoou
Tentaram causar-lhe dores e torturas
Pela virtude ela as abraçou

Teus Odus falaram dos seus ancestrais
As constelações previram teu nascimento
Teu nome foi criado nas matas
Doce encanto dos riachos astrais
Doce ouro puro das joias do Olimpo
Bela sempre bela princesa das lendas navais

Atentaram contra sua fé
Ela teve a proteção dos elementais
Pelo medo ocultaram sua luz
Ela foi socorrida por amigos espirituais
Tentaram outras vezes ainda
Mas o seu corpo era fechado demais

O opelê mostrou sua sina santa
Sagrada sinastria das Iabás
Teu corpo de segredo sacro
Inviolado intacto será
Se ergueres tua mão sobre o céu e a terra
Tuas vontades Deus fará

Quando te via quase sem forças
Prometi minha vida aos Orixás
Uma troca justa e honesta
Eu iria cantando em seu lugar
Nem um, nem outro partirá
Isabela 120 anos terá

Perfumado bálsamo de louvor e júbilo
Pérola encantada dos encantados
Os teus dias são escritos dourados
No livro da vida todos registrados
Teus caminhos serão mares sempre abertos
Da tua boca sairá mel e açúcar mascavo
Muitos outros partiram a séculos
Para garantir o fôlego do teu ar
Eleva teus olhos ao céu
Nada te derrubará
Isabela do céu e da terra
120 anos terá

domingo, 8 de maio de 2016

Hieróstofos

Como as cúbicas cores do cubo que se formam
Na esgrimista alquímica matemática algébrica
Eu estalo em óleo as pinceladas áureas de quimera
Entre estrelas e anãs brancas celestiais

No momento do fim haverá um recomeço
E haverá um convite a um terço da vida a se inclinar
Santidade e virtude estarão confrontadas com o desejo
Um passado doce e triste irá cantar
Poderemos dizer adeus a tudo
E ha uma fração do tempo eternamente nos enterrar

Pelas gramas milimétricas das tuas expressões
Eu posso prever quantas emoções irá sentir
Na dialética humana de todas as paixões
Eu posso traçar a perpendicular secreta a seguir

Nasci do fundo da Terra entre os gritos mais infernais
Dentre as portas do grande fim, fiz um caminho mais inicial
Decorrendo contra o grande espaço criado
Criei uma nova gravidade muito mais mortal
Mortal como as grandes verdades de fina crisálida
Que todo ser humano achará vital

No teu relógio acharás uma pequena mola
Que atrasará todo teu tempo de metal
Teus calendários se rasgarão como seda
Em um único, finito e final momento

Estive eterno entre os carnavais de eras medievais
Paganistas, cristãos, escritos dentro dos sinédrios
Os sinos tocavam entre a neve dos invernos da aurora boreal
E cantavam a hierarquia científica dos pardais
Comi tudo da criação, tudo é demais
Uma nova fécula será imortal

Rodagem

O que eu trago de repente
Para você é um presente
Envolto e costurado
Na palma das minhas mãos

Pelo nome que eu te chamo
Que não é do teu batismo
Que eu mesmo encanto e cismo
Não reflete o teu sermão

Palavra de pedra que ecoa
Pelas encostas rochosas nas árvores frondosas
Arrepiando a espinha em lições saborosas
A mão que estala no corpo vão

Pelas mandingas feiticeiras
Nas entrelinhas tão faceiras
Eu vejo meu amanhã adiar
Sem mesmo me acordar

Pelo sol entre as peneiras

terça-feira, 15 de março de 2016

Pequenos gestos

Ei sei que eu vou te amar como eu puder
Te olhando, te secando quando ninguém vier
Eu sei, que quem sabe, quando souber
Ninguém vai me ver mais, somente se eu quiser

É que eu sou tão egoísta
Eu te pinto de mil cores, eu te dou todo alfabeto
Eu escondo tuas ofensas
Pra não sofrer

Ai meu Deus
E se a pior pessoa da cidade salvasse a minha vida
Eu já não tenho mais idade pra ver isso acontecer
E se eu descobrisse no meu algoz, o meu salvador

Não vamos nos perder nestes assuntos tão pequenos
Que não vale a pena remoer
Nós temos todo tempo do mundo pra entender
O que se foi, já se foi, mas foi bom de viver

O conhecido invisível deixou as pistas do seu mais novo testamento
Como herança deixou a vida, a eternidade, e a centelha de um segundo
Onde estão guardados o melhor de seu ser
E a sua assinatura no ar como prova do verbo haver

Como vai você? Que bom te rever
A tantas eras que não passo neste beco
Tudo mudou, mas nem tudo é mais real
São coisas do tempo, que só o tempo vai responder.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Elióveli

A vida acabou para mim
Um início e fim de cortiça
A dor de cabeça sem fim
Ferina e mortal como o respeito
A pressão magoada nas temporas
Levemente a dormência da nuca
A vida acabou para mim
Um início e fim de cortiça

A vida acabou para mim
Como as grades da jaula de ouro
As portas escancaradas aberta ao voo
O pássaro fugirá sem dar adeus
O mundo se levantará como um avatar
Sem nem notar que faltei
Serei por fim algo que passou
E sem mesmo ter terminado eu passei

Como o eco da nota
Quando parou de tocar
Aqui estou

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A cigana e o estranho

Senhor chegue mais perto
Vou contar-te um segredo
Eu posso ver presente e passado
Bem na palma da sua mão

Eu não estou mentindo

Mocinha eu bem sei
De toda a ciência antiga
Mas acho que você não vai gostar
Do que irá encontrar

Mas se quiser pode tentar

Me dê a sua mão
Vamos ver o seu destino
Eu vejo um passado tão distante
Quase quanto a criação

Isso nunca aconteceu antes

Eu tenho mais idade
Que a idade deste mundo
Eu sou o patriarca que atravessa
Toda essa geração

Da humanidade desde Adão

Eu vejo seu futuro
Sem um fim ou conclusão
Não posso acreditar no que estou vendo
É alucinação

Não existe ser universal

O fim e o começo
Bem na palma dessa mão
Eu venho transcendendo a existência
Desde antes do universo

Eu não tenho impressão digital

Isso não é possível
Bem eu devo estar confusa
As linhas e as fendas
Levam traços de uma herança oriental

O que está acontecendo?

As lindas e as fendas
São a origem mineral
As linhas mais suaves são segredos
Da matriz original

Que eu mesmo projetei

Todos tem um consenso
Em um Deus que é eterno
Mas nunca houve provas
De um ser humano que fosse imortal

Por favor fale a verdade

Eu ensinei a escrita
Bem como a astronomia
Eu enterrei segredos da magia
Na era medieval

Se quiser pode ver

Senhor não me machuque
Não me faça nenhum mal
Eu sou uma cigana quiromante
Apenas ganhando o pão

Eu nem sei o que dizer

Este coração
É a mais pura medicina
Você nunca me viu
E nunca te faria nenhum mal

Agora vá viver

O fugitivo enquanto olha o que deixou

Pálido rosto de brasão e linho comerciante
A terra parece correr mais para tras
Não olha! Ou te tornarás estátua virgem
De trêmula e covarde desistência
Foge da dependência da tua indecisão
Se foste teu crime tua liberdade abraça-o
Ama-o com o fogo com que o odeias
Odeia a ti mesmo, mas que te seja um elogio
Teu passado agora reluz como um mustruário
Belo e triste porém apenas enfeite das porcelanas
Agora estudas a cartilha branca dos refugiados
E o que leres não poderás dizer ou mostrar
Pois é segredo
Foge por entre as encostas rochosas
Onde os Maias fizeram sacrifícios
Enquanto pouco a pouco desenhavam o calendário
E esculpe nas lápides já desfeitas algum risco da tua passagem
Furor dos infernos, o mundo pesa nas tuas costas?
Não. Apenas deixa uma mensagem
Diz agora seres filho do que não tem nome
E do que não tem tempo contado
Teu céu será o hoje o que foi a mais de quinhentos anos
Quando os verdejantes prados não tinham telhados
Para e olha agora tua cidade comer o teu pecado
E dizer olhando ao alto que tem misericórdia
Oh misericórdia que te tornaste a lágrima do espectador
Que se compraz ao ver a dor
Que adora ser impotente e clamar ao Deus impossível
Já dizia o santo, que isso humanamente um dia
De tão triste seria possível
Se teu crime quebrou as tuas amarras
Honra a ele, mas não o sigas
Ele inicia os primeiros errantes
E enterra seus discípulos mais apaixonados
Entrega-te ao mundo ser teres endereço ou mesmo parada
Pois caçarão tua imagem e semelhança
Porque ninguém comete crime à luz do sol
Só nas malhas noturnas
Haverás de te confessar um dia
Chama por um padre depois da missa das sete horas
E conquista tua testemunha
Ao menos alguém lembrará de tua alma com doçura
E uma oração terás a advogar em teu julgamento
Esquece o passado
Pois sim, esquece o presente
Agora és nova criatura
Mas não te digo qual
Pois que elas subsistem da sombra
Do que um dia foi alma pura
Escolhestes assim, antes das algemas do teu casamento
E das tuas bodas de papel
Vede o longínquo e mantém a tua fé
Ela pode te operar o milagre de voar
Na envergadura do céu

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Aurora de ébano

Corre com teus passos de mudez
A noite avança na cavalaria da mensagem
Foste cifrada tua confissão e tua piedade
A moeda de troca de toda cavalaria
Foi teu ato de bondade
O fogo da rebeldia
Corre, luz elástica das auroras
Que sob o véu do alçapão estão escondidas
Com dores ainda usas o ato mágico
A desaparecer imerso em cordas
As areias da grande embarcação
Servirão como testemunhas
Oculares de sua escapatória
Heroica foi tua vida, e teus diários escritos
Agora enquanto meditas olhando os montes desertos
Armam para ti muitas armadilhas
Corre portanto, despede-te e odeia
As profecias lidas na tua mão
Morre se quiseres, mas ordeno-te outra vida
A vagares na fuga dos teus irmãos
Tua marca secular não te ignora
Assim como tua perna mancará como outrora
A terra apagará teus passos em agonia
Porque tua sombra relança um traço de luz
Tua marca secular não te ignora
E te denuncia
Ao veres o raiar do sol nos rostos recém despidos
Do sono ao beijar do dia
Te verão como te veem céus e quimeras
Todos enquanto no altar se ouve o fim da homilia
Para por um instante
Para e olha teu próprio semblante
E como envelheceste combalido da guerra
E nem mesmo relembras da tua mãe
Que te abençoou esperando teu regresso
Tua volta agora se converte em euforia
Porque marcaste o tempo e o passo da outra nação
Foste vigiado até mesmo pelas sombras esguias
Dos que dormiam bêbados pelo chão
Nem te lembras a promessa que amassaste na folha
E enterraste na terceira roseira do teu jardim
Espera porque te lanço uma segunda sorte
E te agarrarão com correntes e açoites
Tirarão boa parte da tua pele
E te deixarão a morrer na ultima prisão
Mas eis que eu tenho meus olhos por ti
E te tirarão na segunda hora da vigília
Te usarão os unguentos certos
E as ervas que deixarei
Terão paciência para que acordes
Então irão alardear tua fuga mítica
Te darão uma túnica, e te dirão o que deves fazer
Te darão um sobrenome e outra idade
E dirão de ti pelas ruas
Ficarás conhecido como se nascestes assim
Até que tua outra vida seja sepultada
Pelas notícias que farei correr
Logo mais poderás renascer em ti novamente
Para o golpe triunfal
Do triunfo me farei secreto
E serei sombra da tua vitória
Meu nome nunca será certo
E minha face jamais poderás contemplar
Sabereis apenas ser eu o âmago
De um ser humano que foi primordial
Uma matriz que não foi um sucesso
Mas que agora será
O que não deu certo
Agora dará

Aqueronte inundado

Eu roubei
A verdade iluminada do sol
Só pra poder lembrar deste universo
Quando ele um dia acabar

Eu roubei
Meia dúzia de gatos pingados no farol
Só pra poder esmolar algum pão amanhecido
E ver o dia acordar

Nós
Nós estávamos tentando reinventar o alfabeto
Com novas letras feitas de novo barro
Para um novo mundo ao qual iríamos entrar

Reunimos o que tínhamos do velho dialeto
Olhando para as fileiras matemáticas quando eu esbarro
Em um novo ponto gravitativo e central

Eu roubei
O ouro dos cabelos de Rapunzel
Só pra poder pintar as bordas da nova tela
Com que faria meu nome imortal

Eu robei
As moedas antigas perdidas no mar
Só pra poder mostrar ao mundo o seu comercio
E sua  ansiedade anormal

Nós
Nós esperamos chegar as novidades
Vindas do oculto do hemisfério oriental
Lapidadas pelas deidades

Ficamos dias e dias contando as estrelas do céu
Até chegar em um número fora das equações
Até perdermos a noção da hora em um sonho cheio de inundações

Eu roubei
As idades do homem mais velho
Só pra poder descortinar as eras
E palestrar como quem esteve lá

Eu roubei
O anel esquerdo dos anciões do fim dos dias
Só pra poder me revestir de poder
E poder  ter razão no meu julgar

Nós
Nós vemos o Aqueronte inundado dos nossos atos
Arrebatando milhões de almas cativas e inocentes
Com a nossa descoberta mortal

Vemos o nosso nome lapidado no barco
Como um troféu a toda nossa ousadia
De dissecar o sobrenome de Platão

Nós
Nos confins da terra diante do mar de fogo
Sentimos medo e sentimos arrependimento de tantos cálculos medievais

Nós
Tentamos em vão uma nova fórmula de atraso do tempo
Para quem sabe voltar a infância e separar nossos pais

Nós
Vimos o inferno perder sua forma e ficar oval
Quente e frio até demais

Nós
Seremos apagados dos tempos imemoriais
Até o ontem e o nunca mais

domingo, 31 de janeiro de 2016

Noite

Vede a ironia
Com que me percebeste
Por detrás da sombra da harpa
Contemplando expressivos
Rostos de orvalho
Debruçados sobre a valsa

A noite era elétrica
Na percussão das pérolas
E zombava da idade
Nas expressões franzinas
Um colar se desfez ao chão
Eram recitadas muitas serestas

Haviam postes de iluminação
Pequenas compotas nas travessas
A questionar nossa posição
De convidados trajados e leais
Os leões nos aguardam
Desde a meia noite depois desta festa

Oh belo senhor sem rosto
Que me cumprimenta e toma meu pulso
Levemente leva-me ao jardim
E depois dali não há o que falar
Evaporou-se como sonho fervido
Para nunca mais se encontrar

Parece poesia mas é um relato

Dados de 2015

Ogum me colocou pra trabalhar
Ogum arrancou minha pele quase literalmente
Achei que o ano não ia acabar
Pedi a Deus pelo fim do mundo pela primeira vez
Achei que eu fosse morrer antes de Dezembro
De verdade quase infartei
Perdi meu cachorro
Hoje exatamente faz um ano
Passei o ano novo com as cores que eu queria
Dormi mal pra caramba
Acordei pior todos os dias
Quase não tive paz
Perdi as contas de quanto eu chorei
Jurei que iria me esquecer desse ano como se ele não tivesse acontecido
Dormi na cama e acordei no chão
Perdi as contas da minha idade
Vivi sem minha irmã que casou
Conheci pessoas que me fizeram sofrer demais
Conheci pessoas que eu quis manter na minha vida
Conheci pessoas que eu deletei sem pensar
Conheci a alegria do dia 31

Esse ano realmente não tive boas lembranças, invejo quem teve porque pra mim eu vivi no limite, aliás sub sobrevivi porque a coisa foi feia de assustar consigo mesma num espelho.
2016 por caridade seja bom comigo.

Hermes olhando para trás

Procuro dentre os zeros o número um
Seu bibelô e ouro e vidro
Chove o sol diferente do solstício
E eu escrevo em panos de linho

Rodo como uma transformação heroica
Ergo a espada e invoco a força interior
Eu escrevo como que em um leve papiro
A de desfazer nos rios do Armagedon

Eloquente pausa de quem faz o mistério
E antes da revelação lança um olhar homogeneo
Eu escrevo como escrevem as serpentes
Na indução das doces canções reluzentes

Se me deitar morrerei entre o caos
Entre a paz me farei corpo nu servente
Termina a doce canção e cerro os dentes
Arrepia-me mentalmente a pele fervente

Desanimei da vida, e o horizonte me aparece sem medo
Minha alma cantou antes do meu nascer que me nega
Nega-se o pão, a paz, o amor me cega
Larga memória do canto que chorei

Deixem-me sem rodeios, não procurem meu nome
Ou minha sombra
Deixem-se dentro do passado
E hoje de alguma forma viverei
Invoquem quem fui
E não haverá presente para ninguém
Esqueçam e andem para frente em um Ave
Então haverei

A título de um dia

Bom, estou aqui, leve e melodioso escrevendo em uma teimosia tirânica, pois na verdade eu deveria estar deitadinho como um respeitoso e venerável senhor de 400 anos programando as próximas jogadas da partida de cacheta.
Na verdade eu me sinto como se tivesse um remo de um barco enfiado no nervo ciático da minha perna, mas contra todas as apostas o médico sempre diz que vai piorar, como se eu algum dia tivesse feito mal a família dele num passado distante porém não apagado.
Como sempre com minha sinceridade de uma acidez demoníaca, por isso quase não escrevo, pode parecer que umas 15 pessoas trabalham nesse blog, mas não! É uma só.
Estamos em um domingo onde com certeza o sol se encontra em rota de colisão com a Terra pois vai ver no inferno tanto calor e uma luz tão forte, por acaso quebraram o botão de intensidade solar e ela está gradativamente aumentando, ou por acaso os efeitos de 1960 que estão se manifestando agora prometem dias ainda mais claustrofóbicos de angústia pelo pior ainda reservado, senhor do céu, o que vai ser desse mundo.
Me consola saber que amanhã eu vou ter que levantar cedo com essa dor peçonhenta nas costas e na perna para trabalhar crente de estar caindo um dilúvio pra deixar pelo menos uma nesga de ar do Alasca pra dar um conforto neste corpo podre.
Mas amém, amanhã logo estará chegando, e estarei ansioso pelo momento em que vou cair sonolento na minha cama no fim do dia!!!!

Nascimentus

Sacrifiquei-me no ano da guerra
Ouvindo a voz do longínquo cais parado
Ouço as vozes cantando em coro pela paz
A maravilha das maravilhas anônimas

Deitar-me-ei entre o enquadramento das bases
Da corredeira das águas até o Coliseu
Ouço ao fundo harpa e violoncelo
A voz timbrada dos mantras tibetanos

Abro os braços ao metafísico Atlas
E seu mundo cuja palavra não saberei dizer
Fechando os oceanos de lentes azuis claras
Aos passos vacilantes dos que andam sobre o mar

Das profundezas clamo a ti senhor
Entre os trechos das linhas e da costura de meus medos
Desce da torre o herói agora exausto
De sua vitória perdida

Criarei louvores eclesiásticos
Aos anjos de gelo seco antes do meio dia
E na hora aberta recitarei em voz alta como salmos
Com amor paradoxo e oval

Ave aos seus passos Lucianira
E sua poética de linhas esquadrejadas
Como ladrilhos que ocultam a sequência do cofre
Guardas os tesouros de todos os reinos e também das fadas

Guardais os portões de puro bronze lapidado
Dos tempos luzeiros do ouro e da platina
Queimando nas veias o sangue de parafina
Palavras de significados cifrados
Criptografia

Ode ao homenageado

Hoje existem nomes que não ouso dizer
Cantigas que não ouso cantar
O horizonte de pedra que tenho que ver
Não tem mais o brilho oval do teu olhar

Tocam-se os sinos, um e dois
Eu vim pelas eras desde a idade da pedra
Alquímico da perfeita combinação do sal
Encontrando as incógnitas da equação da vida
Triangulares entre os ditados e a ópera de parsifal

Hoje fez-se um ano sem a sua alegria
E me esforço por não me lembrar
A dor consanguínea de tentar te salvar
O calor do teu corpo perdendo a vida

Tocam-se os sinos, um e dois
Elevei-me abrindo as minhas asas de anjo
A sua angulação tocando os dois lados do universo
Alcancei a luz de todos os evangelhos e dos escritos santificados
Tornei-me belo através das estrofes e do verso

Eu me lembro todos os dias do seu rosto infantil
Correndo pra lá e pra cá com muita alegria
Talvez as nossas promessas não possam se cumprir
De viver toda uma vida

Tocam-se os sinos, um e dois
Em um êxtase semântico não aceitei me reencarnar
E ganhei de presente a primeira palavra da criação
Permanecerei eterno nas ondas da evolução
Alço o salto quântico, guardião do limiar

Poderia chorar eternamente
Mas decidir ser feliz por te conhecer
Embora eu somente possa rezar
Por um céu maravilhoso onde você estará

Tocam-se os sinos, um e dois
Sacrifiquei-me nos altares da matemática revelação
Na hermenêutica da frônese fiz minha santidade
Aleluia aos céus onde encontro o sacro silêncio
Agrego ao mundo o mais secreto de todas as idades

Tenho que terminar essa escrita
Com uma saudade que me conforta de amor
Mas um dia te verei conscientemente
Receberei dos céus esse favor

Tocam-se os sinos, um e dois
Mergulhei em um nirvana de sons e suratas
Gênesis e mantras de cordas perfeitamente afinadas
A escrita perpétua das ladainhas de quatrocentos anos
Formam meu corpo de puro mistério e maleabilidade não metálica
Nas ondas da mecânica divina, a reengenharia do mundo depois do dilúvio
Deixei pequenas notas da minha expoente epifania
Na transfusão do bem, do mal e da sabedoria
Tornei-me a vaporosa matéria de todas as coisas criadas
Tornei-me a a vida de todos e a alegria
Encontro-me no fim e no começo da vida
Perdão mortais, mas a verdade é muito mais linda
O príncipe de cristal agora irá voar

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tempo corrido

És meu rosto partido
Augusta lira dos meus sonhos
A me levar pelas estradas e esquinas
Dizendo ser meu pai

Teu rosto ofuscava-me de realidade
Realidade secreta das sacristias
Ofuscava-me teu semblante de pomba
Tirava-me o ar como os vitrais

Disseste ser meu pai e me levaste pelo mundo
Com tuas histórias esguias coroaste pulsar
Como átomo em colisão de testes
Sentia-me expandir sem flutuar

No entanto tornaste fumaça aos meus olhos
Ao abrir do novo dia
Vai com Deus vulto conhecido
Volta pra tua terra natal

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Promessas de ano novo

Vamos exumar o Papa
Explodir a Samaria
Vamos restaurar o templo
Antes do terceiro dia

Descerá sobre a montanha
Prometido em outras eras
Dentre todos os profetas
O maior recém chegado

Vamos exumar o Papa
E os concílios do passado
Vamos detonar ogivas
Sobre o ósculo sagrado

Não mais haverá batismos
Deus está do nosso lado
Vamos repartir o mundo
Com a força de um soldado

Nunca é demais
Repetir antigas promessas
Pra perder todo o sono
Nós de outros limites mundiais

Vamos recobrar a consciência
Com novos gestos literais
Quem sabe o fim de uma guerra
Quem sabe o início da paz

Quem sabe tudo vire uma lenda antiga
Pra não esquecermos mais

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Almoço

Eu olho para o horário tentando de alguma forma costurar um pedaço de ignorância, como se na verdade eu passasse toda minha vida exilado do tempo comum de todos, em vão eu tinha aprendido a ler quando na verdade eu procurava apenas cores vibrantes em um mundo aparentemente encharcado de suas fusões e tonalidades.
Com algum esforço estou escrevendo como se andasse para trás no tempo, quem sabe até o dia anterior quando finalmente me deitei para acreditar que dormiria de um descanso prometido e merecido depois  do esquadro do sol.
Chove hoje, então não poderei culpar a chuva que implorei no dia anterior, meu sono se torna meu advogado contra tudo o que intensifica meus passos rumo ao delírio.
Alguém poderia manifestar misericórdia, uma misericórdia tão falsa e maliciosa quanto a minha escrita?
Talvez apenas eu mesmo possa ser misericordioso na tentativa vã de encontrar sentido quando na verdade, apenas sei que estou andando pelo tempo sem contudo toca-lo, e esta é a única forma cifrada que aqueles que usam a palavra encontram como forma de estar no mundo se, no entanto, absorve-lo de seu ritmo.
Pela escrita finalmente encontro-me aparte de tudo, movimentando-me como um planeta independente do astro maior, fujo ao menos do meu temor de esquecer-me que ainda posso isso.

A carta

Irei queimar estes escritos de areia
Antes que a porta seja arrombada
E eu seja levado diante de um sinédrio
Repleto de todos os sábios para me confessar

Estou olhando o caminhar das estrelas
Apontando o sol entre as horas abertas
Irei queimar estes escritos de areias
E as respostas serão desertas

Ainda elegerão outro papa
Como nas eras apostólicas
Faremos vigílias e sacramentos
Em favor dos pecados veniais
Nas portas receberemos o estranho viajante
E suas notícias de ultima hora

Começaremos um ano bissexto
Novamente no fim do carnaval
As manchetes não são animadoras
Mas otimismo nunca foi mortal

Eu quero todo bem, eu quero todo mal
Para poder me elevar
Nas meditações de antimatéria
E na criptografia mental

Eu quero todo bem, eu quero todo mal
Em favor dos pecados veniais
Enquanto ainda saímos do mundo animal
Rumo aos universos celestiais
Quem sabe eu possa economizar palavras
Para parecermos mais cordiais

Estamos no dia 8, do mês de Janeiro
E ainda tudo meio parado
Não me recuperei ainda do natal
E já estou todo ocupado

Este ano promete ser melhor
Se piorar está tudo acabado
Tenho até medo da minha velhice
Quando não for mais condecorado

O grande pássaro traz uma mensagem nova
Que ecoou nos sistemas solares
Aliás teremos uma nova luz
Um novo ser espiritual
Ainda tenho fé neste ano bissexto
E estas palavras são temporais

Para terminar recebi uma carta
Com sentimentos em tom pastel
Recitei seu conteúdo no vento forte
Enquanto caia a chuva torrencial
Imortais neolíticos recém chegados
Eu quero todo bem, e todo mal

Melodia das nações

Temos uma surpesa
Vamos armá-lo pra matar
A noite é uma criança acesa
Você vai se encontrar
Vamos negociar um preço
E com prazer vamos pagar
Com acordos milionários
Você vai se encantar


Soaram a trombeta
Um dos selos foi quebrado
Do horizonte vem um anjo
Que não foi anunciado


Detonamos uma bomba
Não foi culpa de ninguém
Temos um discurso pronto
E depois deste mais de cem
Assista a televisão
Então iremos explicar
Sejamos todos patriotas
Se uma guerra começar


Os oráculos da China
Não previram o holocausto
A morte esconde sua face
Nosso Deus está exausto


Não fale de Deus em vão
Nunca nos diga não
Os governos deste mundo
Tem sua vida nas mãos
Procure rezar com fé
Temos que ter união
Todos serão alistados
Somos mais de um milhão


Manchamos suas cores
Derrubamos suas torres
Foram sangue necessário
Mas virão outros horrores


Temos um futuro tão certo
Iremos juntos prosperar
É importante a economia
E os impostos a pagar
Conhecemos seus amores
Conhecemos suas dores
Iremos estender a mãos
Nós iremos te salvar


Os pilares dos céus
Todos foram abalados
Ninguém conhece o grande irmão
Mas todos são vigiados


Faça sua contribuição
Mate todos que puder
Para conter a população
Na ponta de uma colher
Tudo tem uma boa razão
Possuímos a verdade
Pelo bem da humanidade
Muitos vão morrer em vão


A vida eterna
Nunca esteve tão incerta
Ninguém tem pra onde ir
Mas a porta está aberta