quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O fugitivo enquanto olha o que deixou

Pálido rosto de brasão e linho comerciante
A terra parece correr mais para tras
Não olha! Ou te tornarás estátua virgem
De trêmula e covarde desistência
Foge da dependência da tua indecisão
Se foste teu crime tua liberdade abraça-o
Ama-o com o fogo com que o odeias
Odeia a ti mesmo, mas que te seja um elogio
Teu passado agora reluz como um mustruário
Belo e triste porém apenas enfeite das porcelanas
Agora estudas a cartilha branca dos refugiados
E o que leres não poderás dizer ou mostrar
Pois é segredo
Foge por entre as encostas rochosas
Onde os Maias fizeram sacrifícios
Enquanto pouco a pouco desenhavam o calendário
E esculpe nas lápides já desfeitas algum risco da tua passagem
Furor dos infernos, o mundo pesa nas tuas costas?
Não. Apenas deixa uma mensagem
Diz agora seres filho do que não tem nome
E do que não tem tempo contado
Teu céu será o hoje o que foi a mais de quinhentos anos
Quando os verdejantes prados não tinham telhados
Para e olha agora tua cidade comer o teu pecado
E dizer olhando ao alto que tem misericórdia
Oh misericórdia que te tornaste a lágrima do espectador
Que se compraz ao ver a dor
Que adora ser impotente e clamar ao Deus impossível
Já dizia o santo, que isso humanamente um dia
De tão triste seria possível
Se teu crime quebrou as tuas amarras
Honra a ele, mas não o sigas
Ele inicia os primeiros errantes
E enterra seus discípulos mais apaixonados
Entrega-te ao mundo ser teres endereço ou mesmo parada
Pois caçarão tua imagem e semelhança
Porque ninguém comete crime à luz do sol
Só nas malhas noturnas
Haverás de te confessar um dia
Chama por um padre depois da missa das sete horas
E conquista tua testemunha
Ao menos alguém lembrará de tua alma com doçura
E uma oração terás a advogar em teu julgamento
Esquece o passado
Pois sim, esquece o presente
Agora és nova criatura
Mas não te digo qual
Pois que elas subsistem da sombra
Do que um dia foi alma pura
Escolhestes assim, antes das algemas do teu casamento
E das tuas bodas de papel
Vede o longínquo e mantém a tua fé
Ela pode te operar o milagre de voar
Na envergadura do céu

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