sábado, 6 de fevereiro de 2016

Aqueronte inundado

Eu roubei
A verdade iluminada do sol
Só pra poder lembrar deste universo
Quando ele um dia acabar

Eu roubei
Meia dúzia de gatos pingados no farol
Só pra poder esmolar algum pão amanhecido
E ver o dia acordar

Nós
Nós estávamos tentando reinventar o alfabeto
Com novas letras feitas de novo barro
Para um novo mundo ao qual iríamos entrar

Reunimos o que tínhamos do velho dialeto
Olhando para as fileiras matemáticas quando eu esbarro
Em um novo ponto gravitativo e central

Eu roubei
O ouro dos cabelos de Rapunzel
Só pra poder pintar as bordas da nova tela
Com que faria meu nome imortal

Eu robei
As moedas antigas perdidas no mar
Só pra poder mostrar ao mundo o seu comercio
E sua  ansiedade anormal

Nós
Nós esperamos chegar as novidades
Vindas do oculto do hemisfério oriental
Lapidadas pelas deidades

Ficamos dias e dias contando as estrelas do céu
Até chegar em um número fora das equações
Até perdermos a noção da hora em um sonho cheio de inundações

Eu roubei
As idades do homem mais velho
Só pra poder descortinar as eras
E palestrar como quem esteve lá

Eu roubei
O anel esquerdo dos anciões do fim dos dias
Só pra poder me revestir de poder
E poder  ter razão no meu julgar

Nós
Nós vemos o Aqueronte inundado dos nossos atos
Arrebatando milhões de almas cativas e inocentes
Com a nossa descoberta mortal

Vemos o nosso nome lapidado no barco
Como um troféu a toda nossa ousadia
De dissecar o sobrenome de Platão

Nós
Nos confins da terra diante do mar de fogo
Sentimos medo e sentimos arrependimento de tantos cálculos medievais

Nós
Tentamos em vão uma nova fórmula de atraso do tempo
Para quem sabe voltar a infância e separar nossos pais

Nós
Vimos o inferno perder sua forma e ficar oval
Quente e frio até demais

Nós
Seremos apagados dos tempos imemoriais
Até o ontem e o nunca mais

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