Eu roubei
A verdade iluminada do sol
Só pra poder lembrar deste universo
Quando ele um dia acabar
Eu roubei
Meia dúzia de gatos pingados no farol
Só pra poder esmolar algum pão amanhecido
E ver o dia acordar
Nós
Nós estávamos tentando reinventar o alfabeto
Com novas letras feitas de novo barro
Para um novo mundo ao qual iríamos entrar
Reunimos o que tínhamos do velho dialeto
Olhando para as fileiras matemáticas quando eu esbarro
Em um novo ponto gravitativo e central
Eu roubei
O ouro dos cabelos de Rapunzel
Só pra poder pintar as bordas da nova tela
Com que faria meu nome imortal
Eu robei
As moedas antigas perdidas no mar
Só pra poder mostrar ao mundo o seu comercio
E sua ansiedade anormal
Nós
Nós esperamos chegar as novidades
Vindas do oculto do hemisfério oriental
Lapidadas pelas deidades
Ficamos dias e dias contando as estrelas do céu
Até chegar em um número fora das equações
Até perdermos a noção da hora em um sonho cheio de inundações
Eu roubei
As idades do homem mais velho
Só pra poder descortinar as eras
E palestrar como quem esteve lá
Eu roubei
O anel esquerdo dos anciões do fim dos dias
Só pra poder me revestir de poder
E poder ter razão no meu julgar
Nós
Nós vemos o Aqueronte inundado dos nossos atos
Arrebatando milhões de almas cativas e inocentes
Com a nossa descoberta mortal
Vemos o nosso nome lapidado no barco
Como um troféu a toda nossa ousadia
De dissecar o sobrenome de Platão
Nós
Nos confins da terra diante do mar de fogo
Sentimos medo e sentimos arrependimento de tantos cálculos medievais
Nós
Tentamos em vão uma nova fórmula de atraso do tempo
Para quem sabe voltar a infância e separar nossos pais
Nós
Vimos o inferno perder sua forma e ficar oval
Quente e frio até demais
Nós
Seremos apagados dos tempos imemoriais
Até o ontem e o nunca mais
Nenhum comentário:
Postar um comentário