sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Meus confetes de carnaval

Com certeza você voltará para me buscar
E não me abandonar fantasiado no meio da luz
Você irá voltar antes da lua derreter
Antes do sol esfriar

Olhei com atenção decorada de músicas
As mascaras dos foliões no grande salão
Enquanto procurava vagas de amor em cada semi rosto
Notei que haviam sombras naquele lugar

Você irá voltar com misericórdia na boca para me ver
Quando eu mesmo não puder te acompanhar
Você tentará dizer Adeus de uma forma alegre
Depois que você se for, tudo se esfumacará

Todo salão contentou-se de um silêncio tímido
Aguardando a próxima música tocar
Procurei janelas de ar urbano como consolo
Mas apenas encontrava quadros das estações anuais

Quando você voltar as portas estarão fechadas
Trancadas com tiras de tranças das roupas desfiadas
Um som abafado será imposto em todos os cantos
Uma marcha tocada bem devagar

No salão havia uma escada e um corrimão
Que dava para um imenso altar
Havia uma capela e imagens de santos
Para simbolizar o fim do carnaval

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Os postulados da geração do agora


É porque eu bebo demais
É porque eu fumo
É porque eu durmo fora da hora
É porque eu tento a paz

Você nunca está errado, o resto do mundo está
Você é tão esperto, ninguém te passa pra trás
Você é tão bom, você é nota 10
Depois de você todos são iguais

É porque eu não me abro
É porque eu estou disperso
É porque eu sou esquecido
É porque eu não escolho um lado

É porque eu estou errado
É porque eu estou certo
É porque eu tento ajudar
É porque eu estou calado

Suas palavras são equiláteras
Tão perfeitas que dispensam o reino dos céus
O mundo é tão claro pra você, e caótico demais
Você acreditou em um Deus e agora não precisa mais

É porque eu discordei de você
É porque eu não estive perto
É porque eu sou muito calmo
É porque eu falo muito baixo

É porque eu tenho um problema de cabeça
É porque eu sou anormal
É porque eu não ouvi você chamar
É porque eu não achei algo

Nada se compara a sua altura
Tudo mais é insignificante
Fora do seu juízo e entendimento
Todas as coisas são ilegais
Você é o ápice do ser humano
Depois de você nunca haverá outro igual
A humanidade não encontrou seu grande mestre
Porque você é humilde demais

domingo, 13 de dezembro de 2015

Retinas atemporais


Ouço com amor uma música antiga
Calculando um pouco mais o fim dos meus dias
Grossa e entorpecida mania de nascer envelhecido
Natural e humano quanto as estátuas de resina

Sou a forma cibernética dos antigos Incas
Trazendo muitas pedras coloridas
Tenho a altura da queda íntima
Sou deus regente das veias cardíacas
Dilato os horizontes nas pupilas
Todas as minhas palavras são lapidadas


Tenho encontrado os restos sepultados das outras línguas
Nas linhas dos trópicos e do Equador
Enquanto mudava a passagem das estações
Ouvi composições pelo novo mundo criadas

Eu sou a linha desenhada que limita o círculo
Sou o ponto central e a formula da sua raiz
Oriento os navegantes nas madrugadas da bussola
Vou ao fundo do mar reclamar o que perdi
Desci do alto pedestal e retirei minhas asas de anjo
Prometi rever os vizinhos siderais

Consegui contar duas ou três gerações sobreviventes
Que se anteciparam ao ver a grande onda nas encostas
Fiquei espantado ao ver construções tão desnecessárias
E receoso do abuso sobre os mais finos metais

Eu sou o diamante que resistiu ao tempo
Sem me esquecer da minha origem mineral
O centro terrestre é puro e líquido
Vibra e soa como hinos corais
Adeus estranhos, até nunca mais
Novamente passado eu vou me tornar


sábado, 12 de dezembro de 2015

As salinas e o mamute


Eu troquei meu relógio de braço
Cruzando os dedos pra atravessar a travessa
Calmo e branco como um giz jogado em águas
Tirei do bolso alguma coragem trocada

Olhei o sol, pensei na vida apesar de nada
Como uma dispersão costurada
Tropecei na calçada
Como forma de espontaneidade plástica

Olhei de novo o sol, orbitando outros sois incógnitos
A megera sorte dos que não levam sorte em nada
Cobra uma dose de fé a preços cavalares
Pagas a prestação de conversa fiada

Tal como as salinas das lágrimas santas
Meu coração outrora doce agora é como o sal
Usado para temperar carnes nobres
Na promoção de beira de estrada
Conforme tudo foi escrito
Do escrito não se fez nada

Sentei no banco olhando as pombas procurando o que comer
Passavam estranhos que até podiam ser meus parentes
Me pediram moedas, me pediram informações, me pregaram a palavra
Sem nem se quer perguntarem o que eu estava a fazer

Senti vontade de correr dali sem olhar
Correr como se não tivesse para onde ir
Olhando pra mim não tenho muito gosto do que vejo
Talvez gosto de mais pro que a realidade também me tornou

Eu respiro muito dos conselhos que dou
Eu como todas as cores que posso dentro do que posso ver
Existem comerciais que realmente sinto saudade
Mas nada que valha muito o real valor que eu dou

A vida me golpeou no peito
Como o coice de um mamute enfurecido
Revelei-me o próprio contrário em tão pouco tempo
Muito pouco do que eu era restou
Posso andar para frente agora indo pra trás
Nas voltas do ser que o tempo levou.

WallMushu