sábado, 12 de dezembro de 2015

As salinas e o mamute


Eu troquei meu relógio de braço
Cruzando os dedos pra atravessar a travessa
Calmo e branco como um giz jogado em águas
Tirei do bolso alguma coragem trocada

Olhei o sol, pensei na vida apesar de nada
Como uma dispersão costurada
Tropecei na calçada
Como forma de espontaneidade plástica

Olhei de novo o sol, orbitando outros sois incógnitos
A megera sorte dos que não levam sorte em nada
Cobra uma dose de fé a preços cavalares
Pagas a prestação de conversa fiada

Tal como as salinas das lágrimas santas
Meu coração outrora doce agora é como o sal
Usado para temperar carnes nobres
Na promoção de beira de estrada
Conforme tudo foi escrito
Do escrito não se fez nada

Sentei no banco olhando as pombas procurando o que comer
Passavam estranhos que até podiam ser meus parentes
Me pediram moedas, me pediram informações, me pregaram a palavra
Sem nem se quer perguntarem o que eu estava a fazer

Senti vontade de correr dali sem olhar
Correr como se não tivesse para onde ir
Olhando pra mim não tenho muito gosto do que vejo
Talvez gosto de mais pro que a realidade também me tornou

Eu respiro muito dos conselhos que dou
Eu como todas as cores que posso dentro do que posso ver
Existem comerciais que realmente sinto saudade
Mas nada que valha muito o real valor que eu dou

A vida me golpeou no peito
Como o coice de um mamute enfurecido
Revelei-me o próprio contrário em tão pouco tempo
Muito pouco do que eu era restou
Posso andar para frente agora indo pra trás
Nas voltas do ser que o tempo levou.

WallMushu

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