domingo, 31 de janeiro de 2016

Noite

Vede a ironia
Com que me percebeste
Por detrás da sombra da harpa
Contemplando expressivos
Rostos de orvalho
Debruçados sobre a valsa

A noite era elétrica
Na percussão das pérolas
E zombava da idade
Nas expressões franzinas
Um colar se desfez ao chão
Eram recitadas muitas serestas

Haviam postes de iluminação
Pequenas compotas nas travessas
A questionar nossa posição
De convidados trajados e leais
Os leões nos aguardam
Desde a meia noite depois desta festa

Oh belo senhor sem rosto
Que me cumprimenta e toma meu pulso
Levemente leva-me ao jardim
E depois dali não há o que falar
Evaporou-se como sonho fervido
Para nunca mais se encontrar

Parece poesia mas é um relato

Dados de 2015

Ogum me colocou pra trabalhar
Ogum arrancou minha pele quase literalmente
Achei que o ano não ia acabar
Pedi a Deus pelo fim do mundo pela primeira vez
Achei que eu fosse morrer antes de Dezembro
De verdade quase infartei
Perdi meu cachorro
Hoje exatamente faz um ano
Passei o ano novo com as cores que eu queria
Dormi mal pra caramba
Acordei pior todos os dias
Quase não tive paz
Perdi as contas de quanto eu chorei
Jurei que iria me esquecer desse ano como se ele não tivesse acontecido
Dormi na cama e acordei no chão
Perdi as contas da minha idade
Vivi sem minha irmã que casou
Conheci pessoas que me fizeram sofrer demais
Conheci pessoas que eu quis manter na minha vida
Conheci pessoas que eu deletei sem pensar
Conheci a alegria do dia 31

Esse ano realmente não tive boas lembranças, invejo quem teve porque pra mim eu vivi no limite, aliás sub sobrevivi porque a coisa foi feia de assustar consigo mesma num espelho.
2016 por caridade seja bom comigo.

Hermes olhando para trás

Procuro dentre os zeros o número um
Seu bibelô e ouro e vidro
Chove o sol diferente do solstício
E eu escrevo em panos de linho

Rodo como uma transformação heroica
Ergo a espada e invoco a força interior
Eu escrevo como que em um leve papiro
A de desfazer nos rios do Armagedon

Eloquente pausa de quem faz o mistério
E antes da revelação lança um olhar homogeneo
Eu escrevo como escrevem as serpentes
Na indução das doces canções reluzentes

Se me deitar morrerei entre o caos
Entre a paz me farei corpo nu servente
Termina a doce canção e cerro os dentes
Arrepia-me mentalmente a pele fervente

Desanimei da vida, e o horizonte me aparece sem medo
Minha alma cantou antes do meu nascer que me nega
Nega-se o pão, a paz, o amor me cega
Larga memória do canto que chorei

Deixem-me sem rodeios, não procurem meu nome
Ou minha sombra
Deixem-se dentro do passado
E hoje de alguma forma viverei
Invoquem quem fui
E não haverá presente para ninguém
Esqueçam e andem para frente em um Ave
Então haverei

A título de um dia

Bom, estou aqui, leve e melodioso escrevendo em uma teimosia tirânica, pois na verdade eu deveria estar deitadinho como um respeitoso e venerável senhor de 400 anos programando as próximas jogadas da partida de cacheta.
Na verdade eu me sinto como se tivesse um remo de um barco enfiado no nervo ciático da minha perna, mas contra todas as apostas o médico sempre diz que vai piorar, como se eu algum dia tivesse feito mal a família dele num passado distante porém não apagado.
Como sempre com minha sinceridade de uma acidez demoníaca, por isso quase não escrevo, pode parecer que umas 15 pessoas trabalham nesse blog, mas não! É uma só.
Estamos em um domingo onde com certeza o sol se encontra em rota de colisão com a Terra pois vai ver no inferno tanto calor e uma luz tão forte, por acaso quebraram o botão de intensidade solar e ela está gradativamente aumentando, ou por acaso os efeitos de 1960 que estão se manifestando agora prometem dias ainda mais claustrofóbicos de angústia pelo pior ainda reservado, senhor do céu, o que vai ser desse mundo.
Me consola saber que amanhã eu vou ter que levantar cedo com essa dor peçonhenta nas costas e na perna para trabalhar crente de estar caindo um dilúvio pra deixar pelo menos uma nesga de ar do Alasca pra dar um conforto neste corpo podre.
Mas amém, amanhã logo estará chegando, e estarei ansioso pelo momento em que vou cair sonolento na minha cama no fim do dia!!!!

Nascimentus

Sacrifiquei-me no ano da guerra
Ouvindo a voz do longínquo cais parado
Ouço as vozes cantando em coro pela paz
A maravilha das maravilhas anônimas

Deitar-me-ei entre o enquadramento das bases
Da corredeira das águas até o Coliseu
Ouço ao fundo harpa e violoncelo
A voz timbrada dos mantras tibetanos

Abro os braços ao metafísico Atlas
E seu mundo cuja palavra não saberei dizer
Fechando os oceanos de lentes azuis claras
Aos passos vacilantes dos que andam sobre o mar

Das profundezas clamo a ti senhor
Entre os trechos das linhas e da costura de meus medos
Desce da torre o herói agora exausto
De sua vitória perdida

Criarei louvores eclesiásticos
Aos anjos de gelo seco antes do meio dia
E na hora aberta recitarei em voz alta como salmos
Com amor paradoxo e oval

Ave aos seus passos Lucianira
E sua poética de linhas esquadrejadas
Como ladrilhos que ocultam a sequência do cofre
Guardas os tesouros de todos os reinos e também das fadas

Guardais os portões de puro bronze lapidado
Dos tempos luzeiros do ouro e da platina
Queimando nas veias o sangue de parafina
Palavras de significados cifrados
Criptografia

Ode ao homenageado

Hoje existem nomes que não ouso dizer
Cantigas que não ouso cantar
O horizonte de pedra que tenho que ver
Não tem mais o brilho oval do teu olhar

Tocam-se os sinos, um e dois
Eu vim pelas eras desde a idade da pedra
Alquímico da perfeita combinação do sal
Encontrando as incógnitas da equação da vida
Triangulares entre os ditados e a ópera de parsifal

Hoje fez-se um ano sem a sua alegria
E me esforço por não me lembrar
A dor consanguínea de tentar te salvar
O calor do teu corpo perdendo a vida

Tocam-se os sinos, um e dois
Elevei-me abrindo as minhas asas de anjo
A sua angulação tocando os dois lados do universo
Alcancei a luz de todos os evangelhos e dos escritos santificados
Tornei-me belo através das estrofes e do verso

Eu me lembro todos os dias do seu rosto infantil
Correndo pra lá e pra cá com muita alegria
Talvez as nossas promessas não possam se cumprir
De viver toda uma vida

Tocam-se os sinos, um e dois
Em um êxtase semântico não aceitei me reencarnar
E ganhei de presente a primeira palavra da criação
Permanecerei eterno nas ondas da evolução
Alço o salto quântico, guardião do limiar

Poderia chorar eternamente
Mas decidir ser feliz por te conhecer
Embora eu somente possa rezar
Por um céu maravilhoso onde você estará

Tocam-se os sinos, um e dois
Sacrifiquei-me nos altares da matemática revelação
Na hermenêutica da frônese fiz minha santidade
Aleluia aos céus onde encontro o sacro silêncio
Agrego ao mundo o mais secreto de todas as idades

Tenho que terminar essa escrita
Com uma saudade que me conforta de amor
Mas um dia te verei conscientemente
Receberei dos céus esse favor

Tocam-se os sinos, um e dois
Mergulhei em um nirvana de sons e suratas
Gênesis e mantras de cordas perfeitamente afinadas
A escrita perpétua das ladainhas de quatrocentos anos
Formam meu corpo de puro mistério e maleabilidade não metálica
Nas ondas da mecânica divina, a reengenharia do mundo depois do dilúvio
Deixei pequenas notas da minha expoente epifania
Na transfusão do bem, do mal e da sabedoria
Tornei-me a vaporosa matéria de todas as coisas criadas
Tornei-me a a vida de todos e a alegria
Encontro-me no fim e no começo da vida
Perdão mortais, mas a verdade é muito mais linda
O príncipe de cristal agora irá voar

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Tempo corrido

És meu rosto partido
Augusta lira dos meus sonhos
A me levar pelas estradas e esquinas
Dizendo ser meu pai

Teu rosto ofuscava-me de realidade
Realidade secreta das sacristias
Ofuscava-me teu semblante de pomba
Tirava-me o ar como os vitrais

Disseste ser meu pai e me levaste pelo mundo
Com tuas histórias esguias coroaste pulsar
Como átomo em colisão de testes
Sentia-me expandir sem flutuar

No entanto tornaste fumaça aos meus olhos
Ao abrir do novo dia
Vai com Deus vulto conhecido
Volta pra tua terra natal

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Promessas de ano novo

Vamos exumar o Papa
Explodir a Samaria
Vamos restaurar o templo
Antes do terceiro dia

Descerá sobre a montanha
Prometido em outras eras
Dentre todos os profetas
O maior recém chegado

Vamos exumar o Papa
E os concílios do passado
Vamos detonar ogivas
Sobre o ósculo sagrado

Não mais haverá batismos
Deus está do nosso lado
Vamos repartir o mundo
Com a força de um soldado

Nunca é demais
Repetir antigas promessas
Pra perder todo o sono
Nós de outros limites mundiais

Vamos recobrar a consciência
Com novos gestos literais
Quem sabe o fim de uma guerra
Quem sabe o início da paz

Quem sabe tudo vire uma lenda antiga
Pra não esquecermos mais

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Almoço

Eu olho para o horário tentando de alguma forma costurar um pedaço de ignorância, como se na verdade eu passasse toda minha vida exilado do tempo comum de todos, em vão eu tinha aprendido a ler quando na verdade eu procurava apenas cores vibrantes em um mundo aparentemente encharcado de suas fusões e tonalidades.
Com algum esforço estou escrevendo como se andasse para trás no tempo, quem sabe até o dia anterior quando finalmente me deitei para acreditar que dormiria de um descanso prometido e merecido depois  do esquadro do sol.
Chove hoje, então não poderei culpar a chuva que implorei no dia anterior, meu sono se torna meu advogado contra tudo o que intensifica meus passos rumo ao delírio.
Alguém poderia manifestar misericórdia, uma misericórdia tão falsa e maliciosa quanto a minha escrita?
Talvez apenas eu mesmo possa ser misericordioso na tentativa vã de encontrar sentido quando na verdade, apenas sei que estou andando pelo tempo sem contudo toca-lo, e esta é a única forma cifrada que aqueles que usam a palavra encontram como forma de estar no mundo se, no entanto, absorve-lo de seu ritmo.
Pela escrita finalmente encontro-me aparte de tudo, movimentando-me como um planeta independente do astro maior, fujo ao menos do meu temor de esquecer-me que ainda posso isso.

A carta

Irei queimar estes escritos de areia
Antes que a porta seja arrombada
E eu seja levado diante de um sinédrio
Repleto de todos os sábios para me confessar

Estou olhando o caminhar das estrelas
Apontando o sol entre as horas abertas
Irei queimar estes escritos de areias
E as respostas serão desertas

Ainda elegerão outro papa
Como nas eras apostólicas
Faremos vigílias e sacramentos
Em favor dos pecados veniais
Nas portas receberemos o estranho viajante
E suas notícias de ultima hora

Começaremos um ano bissexto
Novamente no fim do carnaval
As manchetes não são animadoras
Mas otimismo nunca foi mortal

Eu quero todo bem, eu quero todo mal
Para poder me elevar
Nas meditações de antimatéria
E na criptografia mental

Eu quero todo bem, eu quero todo mal
Em favor dos pecados veniais
Enquanto ainda saímos do mundo animal
Rumo aos universos celestiais
Quem sabe eu possa economizar palavras
Para parecermos mais cordiais

Estamos no dia 8, do mês de Janeiro
E ainda tudo meio parado
Não me recuperei ainda do natal
E já estou todo ocupado

Este ano promete ser melhor
Se piorar está tudo acabado
Tenho até medo da minha velhice
Quando não for mais condecorado

O grande pássaro traz uma mensagem nova
Que ecoou nos sistemas solares
Aliás teremos uma nova luz
Um novo ser espiritual
Ainda tenho fé neste ano bissexto
E estas palavras são temporais

Para terminar recebi uma carta
Com sentimentos em tom pastel
Recitei seu conteúdo no vento forte
Enquanto caia a chuva torrencial
Imortais neolíticos recém chegados
Eu quero todo bem, e todo mal

Melodia das nações

Temos uma surpesa
Vamos armá-lo pra matar
A noite é uma criança acesa
Você vai se encontrar
Vamos negociar um preço
E com prazer vamos pagar
Com acordos milionários
Você vai se encantar


Soaram a trombeta
Um dos selos foi quebrado
Do horizonte vem um anjo
Que não foi anunciado


Detonamos uma bomba
Não foi culpa de ninguém
Temos um discurso pronto
E depois deste mais de cem
Assista a televisão
Então iremos explicar
Sejamos todos patriotas
Se uma guerra começar


Os oráculos da China
Não previram o holocausto
A morte esconde sua face
Nosso Deus está exausto


Não fale de Deus em vão
Nunca nos diga não
Os governos deste mundo
Tem sua vida nas mãos
Procure rezar com fé
Temos que ter união
Todos serão alistados
Somos mais de um milhão


Manchamos suas cores
Derrubamos suas torres
Foram sangue necessário
Mas virão outros horrores


Temos um futuro tão certo
Iremos juntos prosperar
É importante a economia
E os impostos a pagar
Conhecemos seus amores
Conhecemos suas dores
Iremos estender a mãos
Nós iremos te salvar


Os pilares dos céus
Todos foram abalados
Ninguém conhece o grande irmão
Mas todos são vigiados


Faça sua contribuição
Mate todos que puder
Para conter a população
Na ponta de uma colher
Tudo tem uma boa razão
Possuímos a verdade
Pelo bem da humanidade
Muitos vão morrer em vão


A vida eterna
Nunca esteve tão incerta
Ninguém tem pra onde ir
Mas a porta está aberta