sábado, 26 de março de 2011

Relógio de ouro

Miragens miragens
Das constelações maiores
Escritas no orvalho negro
Dos outros natais

Miragens miragens
Somadas ao sol
E aos eclipses lunares
Das fantasias fatais

Miragens miragens
Nos caminhos verdes
Do outono das nossas tardes
Dormimos o prazer

Miragens miragens
Duendes e fadas
Conjuram encantos
Pros homens nascer

Miragens miragens
Passadas as eras
Passamos e morremos
Novamente

Pesos leves

Senhoras e senhores
O vôo da Fênix é louvável
A humanidade razoável
Nos trouxe até aqui

Pequenas flores de outono
Eu não posso revelar
As fronteiras de Eliseu
Os jardins suspensos
Sobre as costas dos grandes
Gigantes de pedras

Maria santa e as miragens
Das guerras declamam
O perfume das lágrimas
Perfeita homenagem dos homens
A sua própria miséria

Mas há de nascer dentre aqueles
Uma pura e singela alma de recomeço
Que fará do passado uma lição das cartilhas
Da escola primária

Quem sabe talvez um gesto
Ou talvez as máquinas criadas
Tenham mais sentido
Que a perfeição esquecida

Quem sabe se nossos filhos
Não desejarem viver por nós
E encontremos onde somo estéreis de Deus
Talvez encontremos o vazio das nossas mãos
E nos encherguemos realmente
Mais pequenos do que pensavamos

Então comecemos a ser
Realmente humildes

domingo, 20 de março de 2011

Homenagem

Abram-se as cortinas
Para a recriação
Gemida nas dores da manhã
E no verão das colinas

Deitem-se ao chão
Ouçam os gritos e os delírios
Das febres tardias
Os cravos ainda em botão

Dêem rimas e cordeis
Maquiagens, luzes, vinhos
A benção das mãos
Onde vão os aneis

A rosa encena na viola
As margaridas no violino
O céu tece as nuvens e a macieira
Em Eva e Adão

Beliôm(trecho das Chaves)

O que eu escrevo não vem de mim, vem dos rios e da sua intrigante nuance de maresia, somente percebo a superfície pois a profundidade me faltará como o ar, e contemplarei a revelação além da forma, nasci depois da chuva, como queda de estrelas próximas a uma lua azul.
Sigo somente as diagonais e a sua razão proporcional as vértices, antes da virgula deixei pistas que levarão ao xis do tesouro por traz das cortinas vermelhas, o além da ilusão se desmonta e eis que nasce o dia após a noite, antes do arco-íris vem a chuva e novamente encontro meu nascimento, há um quebra cabeça a ser desmontado antes da última peça, e novamente encontro a imagem descompassada de descrição, me faltam palavras perante a nudez espiral de onde vim e antes da esquinas sinto o desaparecimento contrário a razão da lógica, até eu mesmo havia percebido que o mole havia perdido os contrastes, o risco suave criava a mais pura natureza de mim.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ode ao herói

Bendiz a tua pátria, a tua espada
A vitória santa de tua bondade
vem coroar tua face com as chagas
Vê perante teu olhos a face
Daqueles que te beijaram pra te entregar
no amanhecer da tua fraqueza
Vê diante do coração a adaga
e o elmo de prata
A declamação do juramento
perante o sudário retirou o luar
que banhava as cabeças
Em tua entrada, tua bandeira incendiada
Tuas mãos marcadas ao fio da espada
Cobravam o centavo da tua jornada
Eis que tua bondade te levou a nada
Vede teu coração preso na estaca
Perante a inquisição da tua glória
Vede tua cabeça perante a foice
perante a corda.
E beijas a cobra, bebes o veneno
e conta a horas de tua morte anunciada
E te colocas na boca dos lobos,
enquanto espera o sinal da batalha
Bebes o veneno das cobra e perde tua força
Enquanto tua esperança morre de misericórdia
Na entrega tua e na tua fidelidade
deste as mãos aos teu algozes demônios
vestidos de anjos
Deste teu sangue aos vampiros
E te fechou pra luz dos sábios conselhos
Bebes agora de tua vitória, tua morte calma
de brilhante semblante, que te devora
Oh anjo rebelde, porque te lançaste as chamas?
Porque as achaste santas?
O que será de tuas asas, se te jogastes ao inferno
com tuas veste tão brancas
Teu anel dourado, se parte aos juncos de tua cruz
Tu foste pérola aos porcos,
as tuas tranças dadas aos ventos
Caminhas pelas pranchas
Oh herói triste, tão rápido foi o golpe
que teu sangue é tua unica sede de salvação
Que fazer perante o monte e os ecos
Antes da noite, enquanto os fantasmas
fazem sua via sacra de diamante
esperando tua derrota
Érgue-te que já vem os exércitos
pelas linhas tortas
Não te leves pela febre que bate as portas
Não te leves ao juramento das vítimas
Vira teu rosto as dores
Pois que no inferno as intenções
são sempre virtuosas
Pois que no inferno, as línguas
são cheias de adoração em rimas e prosas
Pois que no mesmo inferno te pediram as provas
Vede que teus advogados foram jogados nas forjas
Vede que teus advogados estão em lágrimas
e de joelhos choram tua sorte pavorosa
Vede que teus advogados foram presos
E que tu os traiste por infancia
Vê que tua bondade te levou a nada
Tua boca foi calada, pelas mãos
das negras corjas
Eis tua vitória

Dedico esta poesia ao herói cujo coração está morto pelas espadas.
Dedico também as almas que me gritaram antes que eu desse o ultimo passo, mesmo que em vão, antes que me agarrassem pelos pés e me levassem ao inferno.
Dedico esta poesia aos meus advogados a quem entreguei nas mãos dos algozes de falsos olhos doces.
Dedico esta poesia as mãos dos anjos que aos poucos me salvam.

terça-feira, 1 de março de 2011

O poeta busca nas mãos cortadas um batismo

O poeta dilata as flores pálidas
Como um coração entre as máquinas
Como as abelhas que buscam o mel
nas aquarelas
Eu ouço as vozes e não vejo as cores
Com o invisível toque
Da luz das velas
Chove o suor sobre os telhados de tinta
E os espelhos fingem o sorriso
Quando as mãos rabiscam a terra
E inventam a semente
As paredes estão escritas com orações
Depois da guerra