quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Aviel

Pequenas gotas de um faraó
Nobre geração desenganada
Sem ser ou estar
Com crianças sofrendo sem sair do lugar
Comendo antigo o ouro de Ofir
Novas estrelas morrem sem brilhar
No céu de inverno e outono
Estações sem se encontrar
Memórias cozidas
Entrando em contato com o ar

domingo, 16 de setembro de 2012

Rua Rui Barbosa 20 para as cinco



Ela passou por mim pálida, uma palidez que me consolava não sei por quê. Ela ia devagar como o tempo, e em humilde escolha se fez com a sua travessia diante do mar iluminado de sol.
Ela não andava, seguia a consolação com uma criança adormecida nos braços, e outra agarrada ao seu vestido florido, já desbotado pelas suas dores. Falando pelo silêncio suado do seu rosto, um idioma cantado somente pelos que seguem quase a vida toda o caminho da privação até ter seus desejos e suas vontades esmagados pela dura realidade de pedra. A criança, tão nova e já vencida, me deu uma solidariedade de cortar a pele, desejava eu dormir do seu cansaço, eu aceitaria todos os duzentos anos do seu leve rosto abatido, banhado e dourado de seu descanso. Não, eu não encontro pessoas para suportar o peso desta criança, eu não a suportaria, pois a vida me deu muitas coisas e meu suor não possui o conteúdo do sal, o sal que com vergonha eu não podia conter. Sentia da mulher um sorriso de enfim chegar perto do inalcançável, onde enfim se desfazia de sua tímida força e se permitia enfim sofrer. Permitia-se enfim com esperança pois o enfim nunca chegaria até os seus olhos umedecidos pela poeira dos carros que passavam egoístas. Busquei fazer de mim uma promessa de paraíso pobre, pois eu mesmo não sofria com a carne e a redenção, então, não merecia um paraíso para poder cria-lo mesmo que por misericórdia. Estou inconformado como uma criança lutando contra o próprio sono, ela era vista por ela mesma e dava passos altos vindos de uma nobreza caracterizada de quem não tem nada. A mim, fora privada mesmo a privação desta mulher, que agora eu amo e como suas sandálias sustento chorando o seu peso incondicional.
O que era miséria nela? Nada, eu estava esperando indecentemente com minhas sacolas. Meu Deus sou importante! Gritava irritantemente o grão de areia. Minha imensidão estava justamente em não ser nada perante aquela mulher. A outra criança por sua vez se agarrava objetivamente ao seu vestido e dele fazia sua casa e seu exercito, então, ela brincava com os passinhos leves e doloridos avançando como uma guerrilha, um holocausto oferecido ao deus sol. Cada passo era desavergonhadamente puro e imaculado, ela andava sobre a literatura do nordeste e da sua seca com grosseria e vitória extenuadas.
Somente me restou dobrar-me e olhar para de alguma forma sofrer por ela, pois sentia em mim a dívida que tinha com aquela trindade comum, a mulher, a criança pequena e a criança de colo, todos esgotados de serem divinos.
A mim somente restava olhar e orar para que os três fossem ao mesmo tempo um só Deus.

WallMushu