Ela passou por mim pálida, uma palidez que me consolava não
sei por quê. Ela ia devagar como o tempo, e em humilde escolha se fez com a sua
travessia diante do mar iluminado de sol.
Ela não andava, seguia a consolação com uma criança
adormecida nos braços, e outra agarrada ao seu vestido florido, já desbotado
pelas suas dores. Falando pelo silêncio suado do seu rosto, um idioma cantado
somente pelos que seguem quase a vida toda o caminho da privação até ter seus desejos
e suas vontades esmagados pela dura realidade de pedra. A criança, tão nova e
já vencida, me deu uma solidariedade de cortar a pele, desejava eu dormir do
seu cansaço, eu aceitaria todos os duzentos anos do seu leve rosto abatido,
banhado e dourado de seu descanso. Não, eu não encontro pessoas para suportar o
peso desta criança, eu não a suportaria, pois a vida me deu muitas coisas e meu
suor não possui o conteúdo do sal, o sal que com vergonha eu não podia conter.
Sentia da mulher um sorriso de enfim chegar perto do inalcançável, onde enfim
se desfazia de sua tímida força e se permitia enfim sofrer. Permitia-se enfim
com esperança pois o enfim nunca chegaria até os seus olhos umedecidos pela
poeira dos carros que passavam egoístas. Busquei fazer de mim uma promessa de
paraíso pobre, pois eu mesmo não sofria com a carne e a redenção, então, não
merecia um paraíso para poder cria-lo mesmo que por misericórdia. Estou
inconformado como uma criança lutando contra o próprio sono, ela era vista por
ela mesma e dava passos altos vindos de uma nobreza caracterizada de quem não
tem nada. A mim, fora privada mesmo a privação desta mulher, que agora eu amo e
como suas sandálias sustento chorando o seu peso incondicional.
O que era miséria nela? Nada, eu estava esperando indecentemente
com minhas sacolas. Meu Deus sou importante! Gritava irritantemente o grão de
areia. Minha imensidão estava justamente em não ser nada perante aquela mulher.
A outra criança por sua vez se agarrava objetivamente ao seu vestido e dele
fazia sua casa e seu exercito, então, ela brincava com os passinhos leves e
doloridos avançando como uma guerrilha, um holocausto oferecido ao deus sol.
Cada passo era desavergonhadamente puro e imaculado, ela andava sobre a literatura
do nordeste e da sua seca com grosseria e vitória extenuadas.
Somente me restou dobrar-me e olhar para de alguma forma
sofrer por ela, pois sentia em mim a dívida que tinha com aquela trindade
comum, a mulher, a criança pequena e a criança de colo, todos esgotados de
serem divinos.
A mim somente restava olhar e orar para que os três fossem
ao mesmo tempo um só Deus.
WallMushu
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