segunda-feira, 12 de março de 2012

Fenéstro

Eis que sois vintém
Deslizando nas águas da correnteza
Por onde passam os barcos
Bem cedo pela manhã
Caçando a luz do sol
Pelas margens e beiradas

Eis que sois ossos, carne e coração
Amanhecendo os pardais para o Outono
Em fitas de um colorido São João
Como prismas a refletir o arco-íris
E fractais espaçados entre as palavras
Que não ouso encarar

Cálices, cordas e grama
Violas flamencas e castanholas
Portas abertas e sóis que crescem
Quem me dera ser tão grande
Quanto García Lorca
Nos seus versos que emudecem

A prata, a ferrugem e a gente
Andando nas madrugadas
Para a época da colheita
Das maçãs do rosto
E da vergonha alheia
Onde vemos por um momento
Que o tempo está dando tempo
Ao amadurecer da mocidade de cores novas
Ainda não misturadas e sem tonalidade
Ainda não pintadas em tela branca

Nesta flor uma semente
Nesta semtne uma nascente
Uma criança, homem ou mulher
A abrir os olhos da terra, ouro e Alexandria
Rir como a muito a gente não ria
A graça do tempo dado
Ás mãos calejadas e aos olhos embaçados
Das ruas de mormaços e de sol
Que desta vez nasceu carrasco
Pingando ódio e injúria sobre as costas ardentes
Das pobres almas descontentes
Com o próprio salário

Quase não reconheço
Teu rosto de fogo das forjas
E metal malhado de guerra
Tuas barbas de luz aurea
Teus olhos de apocalípse
Tua voz que abala a terra
Teu coração pulsando o homem
Tua respiração inocente e magna

Que me escondes no mar?
A linha da minha vida
A carta do eremita, a roda da fortuna
A paz que em vão eu busco
O Deus que me perdoa
A mãe que não me esquece
O pai que não me nega
A mão que me bate o rosto
O inferno pra onde eu vou
O paraíso que me espera

Quem irá nascer?
Que então não serei pai
O que me fará mudo diamante 
Transparente, sem nada pra dizer
O que me fará estrela cadente
Desejando acordar

WallMushu

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