sábado, 22 de agosto de 2015
O Amanhã
Desejo um amanhã em outra terra
Onde minhas ruínas estejam intactas
Sem manchar meu pálido rosto de gesso novo
Sem cordas ou ventríloquos recém formados
A total habilidade do florescer entre os fios de corte
E a sombra oculta nas nesgas de luz
Natural como a minha cara
Travestida de um dia comum
Eu, prostituta deformação de alguma coisa
Vinda de outros passados, nivelando o coração
Talco exalando um perfume pueril de inocência
Que reveste o pecado de uma santidade passageira
Ao tempo do passo que deixei largado por anos
Não tenha tremor querida
Eu jurei ver as flores de Maio
Por mim e por você nesta vida
Retardo os copos trocados
E troco as palavra nos diálogos
Falando mais rápido
As vezes mesmo sem ser notado
Mesmo o sol nasceu veado
E as orquídeas negras dão o contraste
Da tela que iremos apresentar ao público
Para pagar nosso passado
Haverão outros calendários
E outros finais para o mundo
Haverá outro amor profundo
Vivido em campanários
Minha linguagem é toda decodificada
Não fique em dúvida querida
Eu decorei todos os códigos binários
Por mim e por você nesta vida
Podem ser distâncias de eras medievais
Ou daqui até a esquina
Paramos em algumas vendas
Para uns tragos e uns abraços
As safiras no lustre dependurado
No teto que agora é chão dos nossos dias
Caminhando passos pré marcados
Comparados nos compassos
Ainda não existe verdade
Nas horas e nas minhas rimas
Não verdades recém contadas
Ou verdades recém escondidas
Temos tempo para falar destes traços
Não se preocupe querida
Eu disse que deixaria tudo no lugar
Por mim e por você nesta vida
E as primaveras chegaram secas
Com flores e temas portuários
Rimas como essa criadas a esmo
Sem ter pontos reais entre as entrelinhas
Eu queria não ter aniversário
Ou quem saber ter uma vida
Quem sabe seja uma filosofia destas ocultistas
Ou uma cifra barata destas fransinas
Eu andava contando escadas
Com rituais e cismas
Contava todas as voltas
Para ver se estavam paradas
Eu contava demais como o preso conta os dias
Não preste atenção querida
Eu trarei todas as respostas certas
Por mim e por você nesta vida
Nasci de outras vidas não nascidas
Como se o mundo não comportasse nossas sinas
Como se as gramas não fossem mais verdes
Ou as flores não exalassem mais prata
Eu amo o som dos violinos
Onde se tem notas claras
Notas escuras nas consoantes médias
Com pequenas comédias nas horas clássicas
Eu perco tudo com muita calma
Já rabisquei muros quase com angina
Estaquei nos momentos áureos
De ser pego nas fugas caras
Veja como andam nossos pequenos traços
Veja bem minha querida
Os dias serão mais folgados
Por mim e por vcê nesta vida
Já pensei em perdoar a tua dívida
Mas a vida anda cobrando demais
A gente sobrevive de ser cobrado
E tudo custa mais e mais
O trabalho é dobrado
E a vida uma mesquinharia
O desespero é uma micharia
E o vital custa o que é raro
Eu talvez mude de cidade
Eu talvez mude de estado
Meu coração vai ser cortado
Eu terei uma identidade
Num prato de prata com sal refinado
Não me pergunte querida
Eu explicarei a origem das coisas
Por mim e por você nesta vida
Eu como o que eu posso da vida
Nos termos do meu contrato
Lendo com lentidão todas as linhas
Sem me cortar da bondade de que sou alvo
Eu não sou um anjo hieráritco
Nem tenho nomes cabalísticos
Misticos como os hierofantes
Ou personagens fictícios
Ouro em pó soprado aos prados
Entre as encostas dos mares de início
Príncipes cheios dos seus vícios
Meu corpo todo marcado
Um mundo homogêneo fálico
Tente ter paciência querida
Não vou deixar tudo acabar
Por mim e por você nesta vida
Eu terei outro nome do meu lado
Quem sabe uma outra forma de vida
As vezes distante as vezes do seu lado
Tempo de tempo que se faz a lida
Alimento-me do ar parado
O vento me tira toda a resina
Os pés na areia do mar passado
Me lembram como foi o que já não combina
Até parece uma carta amassada
Destas que se joga sem ler
Até parece um destino trágico
Ou que eu nunca mais vá te ver
Mas nada será mudado
Preste atenção querida
Eu vou mas irei ficar
Por mim e por você nesta vida
WallMushu
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